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ESPORTE ADAPTADO

Dr. Marco Antonio Guedes de Souza Pinto

Cheguei há pouco de Atlanta, onde se realizaram as Paraolimpíadas, evento que ocorre sempre logo após as Olimpíadas e que reúne portadores de diferentes deficiências físicas, como cegos, paraplégicos, tetraplégicos, paralíticos cerebrais, amputados, etc.
Trata-se, no meu ponto de vista, de um espetáculo mais ou tão fascinante quanto as tradicionais Olimpíadas. Podemos ver pessoas superando dificuldades físicas de maneira incrível. Por exemplo, um atleta amputado congênito, sem as mãos e os pés, com próteses especiais para corrida de velocidade, conseguir uma marca em torno dos onze segundos, o que é muito próximo da marca mundial para pessoas não portadoras de deficiência.
Isto é lindo de ver, mas não estou aqui tentando fazer a apologia do esporte olímpico, aliás, tenho considerado com muito cuidado as vantagens para a saúde que, supostamente, o esporte competitivo possa trazer. É hoje sabido que atletas de elite têm suas articulações e outras partes do corpo desgastadas, devido ao esforço extremo a que são submetidas na prática esportiva exagerada. Estas competições se tornaram hoje tão extremas que as pessoas se lesam gravemente no esforço de conseguir melhores resultados.
O que para mim é especial é que, com a realização de eventos desse tipo, uma parte muito grande da população tem a oportunidade de ver, através dos meios de comunicação, deficientes físicos que não estão preocupados em esconder suas deficiências. Pessoas saudáveis, fortes e alegres, tentando superar suas dificuldades funcionais, e que são mais aptas do que muita gente tida como "normal".
Podemos mesmo ver empresas como uma Nike ou Ruffles patrocinando muitos desses atletas, por acreditarem que eles vão ajudar a vender seus produtos. É como um sonho para mim, que cheguei a saber de grandes multinacionais que deram dinheiro para ajudar em patrocínio com a condição de que seu nome não fosse vinculado a um "deficiente". Graças a esses atletas pioneiros que não têm problemas maiores do que sua própria dificuldade física - quero dizer, que superaram um bloqueio psicológico injusto que lhes foi imposto por pessoas desorientadas que estavam à sua volta -, estamos entrando em uma nova era para os portadores de deficiência física, onde esta deficiência vai poder ser encarada e tratada só pelo que ela é, sem que o portador se sinta inferiorizado socialmente ou culpado por ter uma dificuldade funcional.
Mais próximo está o dia em que as pessoas vítimas de uma amputação, ou que tenham que se locomover com cadeiras de rodas, ou apresentem qualquer aspecto que as tornem diferentes de um modo considerado desvantajoso do ponto de vista funcional, poderão ser olhadas pela comunidade somente como diferentes, como é diferente a pessoa que usa óculos ou um aparelho de gesso temporário, por exemplo.
Feio e bonito são conceitos temporais, nada definitivos. Esses conceitos podem e são mudados. Isso passa como passa a gripe. Eu sou amputado, eu não sou feio por isso; sou diferente, uma forma rara.

(fonte http://www.centromarianweiss.com.br)